Seu IMC não classifica quem você é!

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Recentemente eu atendi um paciente chamado Rodrigo (nome fictício). Rodrigo é um pai de família, trabalhador e que iniciou o seu acompanhamento nutricional comigo em maio de 2024 onde apresentava 111,6Kg, um diagnóstico de hipertensão arterial e IMC 32,9Kg/m² indicativo de obesidade grau 1.

Embora não estivesse com uma composição física saudável, apresentando no início do acompanhamento 21% de gordura corporal, Rodrigo já era uma pessoa fisicamente ativa praticante de musculação e lutador de Krav Maga com uma alta graduação na arte marcial, praticando cada uma das modalidades 3 vezes por semana. Sedentário Rodrigo não era!

O problema maior realmente estava na alimentação, pois por ser um homem alto com 1,84m de estatura, conter um elevado peso corporal e elevado nível de atividade física, Rodrigo é uma pessoa que come bastante e estava habituado a realizar refeições bem volumosas no seu dia a dia.

Em julho de 2024 Rodrigo retornou em consulta e surpreendentemente seu peso despencou para 104,6Kg e o percentual de gordura que antes era 21% caiu para 16,4%. 

Toda essa mudança ocorreu com pequenos ajustes nas suas refeições iniciando com uma dieta restrita em calorias mas com alto volume alimentar, rica em vegetais, fibras e elevado conteúdo de proteínas para favorecer a saciedade. Não vou focar muito na estratégia alimentar que utilizei com Rodrigo, pois nesse artigo quero falar sobre outra questão, o bendito IMC.

Após ter visto e comemorado toda a evolução, Rodrigo me perguntou sobre o seu IMC que embora houvesse reduzido para 30,9Kg/m², a redução ainda não foi o suficiente para sair de uma classificação de obesidade.

Percebi na linguagem corporal e tom de voz de Rodrigo a sua insatisfação após observar a classificação do seu IMC e dizer “mesmo assim ainda não foi o suficiente para sair da obesidade grau 1”. Esse pequeno detalhe classificatório, mesmo após uma evolução incrível reduzindo 7Kg de gordura corporal já foi o suficiente para frustrar um paciente que estava progredindo muito bem. Eu precisava fazer alguma coisa para mudar isso e foi então que expliquei ao Rodrigo o mesmo que venho explicar nesse artigo.

Eu não sou contra o IMC, pois ele possui sim a sua aplicabilidade na prática clínica, mas é preciso entender que sua classificação é resultado de uma média populacional e por isso, utilizar apenas esse dado para classificar uma pessoa como saudável ou não, não é o mais indicado. Outros parâmetros precisam ser levados em consideração na avaliação por um profissional como hábitos alimentares, prática de atividades físicas, qualidade de sono, alterações em exames, histórico de saúde familiar e etc. Aqui está o problema, muitos profissionais da área da saúde, não levam em consideração outros parâmetros ao orientar seus pacientes.

Rodrigo chegou até mim após um encaminhamento médico para redução de peso como forma de tratamento para sua pressão arterial que estava elevada, e o médico focou tanto no peso e IMC do Rodrigo que mesmo após ter obtido uma ótima evolução, ele ainda se sentiu frustrado por não sair de uma classificação de obesidade.

Por isso é importante entender a diferença entre peso e composição corporal. Nosso corpo é formado por massa gorda composta por gordura visceral que fica entre nossos órgãos na região abdominal e gordura subcutânea que fica entre nossa pele e a massa muscular. Temos também a massa magra que é composta por ossos, orgãos, água e o tecido muscular presente no nosso corpo. A questão é que a quantidade de cada um dos componentes que formam a massa gorda e a massa magra mudam muito de acordo com os hábitos e estilo de vida de cada indivíduo.

Pessoas sedentárias com maus hábitos alimentares, tendem a ter um maior conteúdo de gordura corporal e baixo nível de massa muscular, sendo que apenas essas alterações já são danosas à saúde geral. Porém, quando associado ao elevado peso corporal e IMC, a situação fica ainda pior.

Já no caso de pessoas praticantes de atividades físicas, a tendência é que o indivíduo desenvolva mais massa muscular. Sendo que mais massa muscular, também significa mais peso corporal o que também eleva o IMC, mas com uma composição corporal totalmente diferente e muito mais saudável.

Por isso, quando o indivíduo é praticante de atividades físicas o IMC não é uma boa forma de avaliação do estado de saúde, pois as mudanças no conteúdo muscular podem ser um fator de confusão quando não há a avaliação conjunta da composição corporal.

No caso do Rodrigo, mesmo com 104,6Kg e um IMC elevado classificado como obesidade, a sua composição corporal não condiz com a classificação, sendo o percentual de gordura de 16,4% considerado um nível normal e saudável para homens adultos.

Após entender isso, meu paciente ficou muito mais feliz e motivado com seu processo de emagrecimento e espero que essa informação ajude você leitor a entender melhor como ocorre de fato o emagrecimento no seu corpo, que não é baseado apenas na redução de peso corporal, mas sim na melhora da composição corporal.

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